10 de março de 2007

Êle

Passou um gel no cabelo e indeciso analisou o armário. A escolha da calça jeans escura e a blusa de linho listrada com manga comprida no calor tinha uma razão especial. Tirou o carro da garagem - um gol prata - e rumou para o shopping mais próximo.

Naquele banco de madeira, na movimentada praça de alimentação, pediu o primeiro chopp. Diga-se de passagem, stands de mini-bar em shopping soam um tanto quanto alcoólatras. Não se importou com conforto e discrição. Tampouco pensou em um ambiente mais intimista. Qualquer lugar seria o lugar.

Sua perna balançava ansiosamente, como em uma tentativa frustrada de cavar o chão. Virava o pulso para controlar a hora em seu relógio prateado e manteve um olhar tenso, procurando apoio nas pilastras, paredes, no teto. Procurando apoio em mim.

Mais um, dois chopps. Abria e fechava o celular preto, digitando as teclas sem retorno. Ninguém a responder no túnel. Voltou a acenar para o garçom.

Eu e ele perdemos as contas dos copos. Diante dos olhos, um vazio; o celular de nada adiantou e no relógio, apenas números. Estava ele, com ele mesmo e nem do próprio ele se lembrava. Pediu a conta, levantou-se e enfim a encontrou. Ela nem mesmo lhe sorriu, estendeu a mão e disse: "prazer, meu nome é solidão".


"Toda mulher com personalidade forte costuma saber se vestir".
Nandini D'Souza, editora de moda das revistas americanas W e Women's Wear



Som do dia: New Slang (The Shins)